Fernandes Preconceito Racial
1965: A persistência do passado
1966: Aspectos da questão racial
1968: Ciência e consciência
1969: Além da pobreza: o negro e o mulato no Brasil, pp. 70-73
O desalojamento dos negros do mercado de trabalho e sua inserção tardia
“Há, em primeiro lugar, a longa fase (aproximadamente de 1827 a 1885), em que a imigração foi sufocada pelas contingências sócio-econômicas do regime servil. Nessa fase, o imigrante não ameaça os padrões de acomodação racial decorrentes da escravidão.
Como sugere com razão Couty , o trabalho escravo eliminava, economicamente, o trabalho livre. Enquanto possuísse o escravo, o senhor tinha o maior empenho em explorá-lo tão intensa e extensamente quanto lhe fosse possível. Todavia, a presença do imigrante não foi totalmente neutra. Em todo o Brasil, o desenvolvimento econômico da agricultura, sob o regime servil, provocava e condicionava a formação de núcleos urbanos e, dentro destes, determinava certa diferenciação do sistema ocupacional. São
Paulo não constituiu exceção a essa tendência. Mas, atravessou-a sob condições histórico-sociais peculiares. Enquanto cidades como o Recife, São Salvador e, mesmo
Rio de janeiro ofereceram oportunidades de reabsorção do ex-agente de trabalho escravo como liberto, em pleno regime da escravidão, nos diferentes setores dos serviços urbanos, das ocupações artesanais ou do pequeno comércio, em São Paulo se (p. 111) estabeleceu precocemente a tendência a canalizar tais oportunidades na direção dos imigrantes.
Por conseguinte, embora a população da cidade abrigasse grande número de libertos, estes não lograram aproveitar as oportunidades de trabalho livre inerentes à ordem social escravocrata e senhorial de maneira vantajosa. Ao contrario, como mostram os anuários e as estatísticas, os imigrantes concentrados na cidade absorveram as oportunidades ocupacionais de maior interesse econômico. Em conseqüência, o número de libertos que