HISTORIA
Revista Historiador Número 06. Ano 06. Janeiro de 2014.
Disponível em: http://www.historialivre.com/revistahistoriador
GILBERTO FREYRE E FLORESTAN FERNANDES: O DEBATE EM
TORNO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL
Gustavo da Silva Kern1
Resumo
O presente artigo aborda a questão racial brasileira a partir do ponto de vista da história das ideias. Pretende-se apresentar o debate em torno da metáfora da democracia racial no
Brasil, em meados do século XX, tomando por problemática central o pensamento de
Gilberto Freyre e Florestan Fernandes. ― possivelmente os teóricos da questão racial brasileira que mais profundamente refletiram sobre essa inequívoca metáfora. O primeiro, erroneamente conhecido por ter cunhado a própria expressão democracia racial para caracterizar a formação do Brasil; o segundo, o crítico que mais investiu esforços na tarefa de denunciá-la como falsa verdade e empecilho para a verdadeira democratização do País.
Palavras-chave: Gilberto Freyre. Florestan Fernandes. Democracia racial.
Introdução
A politização da questão racial brasileira, principalmente a partir de meados da década de 1990, guarda íntima relação com os primeiros movimentos do Governo Federal no sentido da institucionalização de políticas públicas de ação afirmativa ― que definem intervenções sobre a população nacional a partir de sua composição étnico-racial, objetivando a inclusão de determinados grupos historicamente descriminados. Na medida em o Brasil, em 2001, se tornou signatário da Declaração de Durban2 ― assumindo diante
Organização das Nações Unidas (ONU) o compromisso de desenvolver “programas de ações afirmativas [...] para promoverem o acesso de grupos de indivíduos que são ou podem vir a ser vítimas de discriminação racial” (ONU, 2001, p. 55-56) ― um instigante e controverso debate se estabeleceu em nosso País, colocando a questão racial no centro das tensões políticas.
Ainda que rapidamente, lancemos um olhar retrospectivo sobre esse