Estratégias de Leitura
Uma análise didática
127
1
f
Delia Lerner
ormar leitores autônomos é um propósito indelegável da educação obrigatória. Para cumpri- o é necessário, antes de tudo, aceitar que também é l uma tarefa difícil. Uma dificul ade essencial é a posição de dependência d que o aluno ocupa na instituição escolar, exatamente esse aluno que tentamos transformar em leitor autônomo.
Reconhecer a tensão entre a autonomia postulada e a depen ência cotidiana faz duvid dar de soluções aparentemente sim les e, por isso mesmo, tentadoras. Parece quesp tionável, por exemplo, que ensinar aos leitores “novatos” estratégias utili adas pez los leitores “experientes” — como postulam alguns autores2 e muitos livros didáticos atualmente em circulação — seja suficiente para gerar autonomia no aluno-leitor.
Para formar leitores autônomos no âmbito da instituição escolar não basta modificar os conteúdos de ensino — incluindo, por exemplo, estratégias de autocontrole da leitura — é neces ário, além disso, gerar um conjunto de condições didáticas que s autorizem e habilitem o aluno a assumir sua responsa ilidade como leitor. b Analisar os obstáculos enfrentados ao orientar o tra alho para a construção da autob nomia nos ajudará a esclarecer quais condições didáticas precisamos criar. Estudar o fun ionamento de algumas dessas condições, com a descrição de diversas c situações didáticas durante a escolaridade, nos permitirá delinear o caminho que estamos tentando percorrer para cumprir nosso propósito.
1. Tensões institucionais e modelos didáticos
As tensões que dificultam caminhar rumo à autonomia estão presentes não só no ensino usual — em que predomina o modelo didático normativo (Charnay, 1994) — mas também nos projetos de ensino que se inserem em um modelo didático aproximativo ou apropria ivo, que concebe o aluno como produtor de conhe imento, t c encarregando-se do processo de assimilação e procurando construir