Essência e aparência: aspectos da análise da mercadoria em marx
“Quanto à economia vulgar, ela se vangloria, aqui como em toda parte, com as aparências, para negar a lei dos fenômenos. Ao contrário de Spinoza, acredita que ‘a ignorância é uma razão suficiente’”.
É nesses termos que Marx avaliou, em numerosas oportunidades, a distância que separa a economia vulgar da economia política clássica e, a fortiori, da crítica que ele próprio fez a respeito desta última; ele nos fornece, ao mesmo tempo, uma concepção da condição mínima necessária a que deve satisfazer todo trabalho que ambicione revestir-se de um caráter científico: que esse trabalho abarque a realidade além da aparência que a esconde.
“A análise científica da concorrência pressupõe, efetivamente, a análise da natureza íntima do Capital. É assim que o movimento aparente dos corpos celestes só é inteligível para aquele que conhece seu movimento real, mas inatingível pelos sentidos.”
“Que, em sua aparência, as coisas sejam freqüentemente representadas sob uma forma inversa, é fato bem conhecido por toda ciência, exceto a economia política.”
“Toda ciência seria supérflua se a aparência das coisas coexistisse diretamente com sua essência.”
Nessas passagens, Marx apresenta a distinção conceitual entre aparência e realidade como uma forma de cientificidade enquanto tal, indicando-nos que o método que aplica à economia política corresponde a uma exigência geral para atingir um conhecimento válido, exigência que toma de empréstimo às outras ciências onde já foi formulada há muito tempo.
Passemos à segunda resposta de Marx, que é de ordem inteiramente diferente da primeira. Essa resposta, contida na doutrina do fetichismo, precisa, efetivamente, quais são as propriedades do objeto estudado por Marx que exigem que as aparências sejam destruídas se se quiser que a realidade seja corretamente apreendida. Ela