Ensaio Filosófico
Mirian Correia Tavares mirian_lud@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO
A conhecida experiência do socialismo na União Soviética é assim vista por Norberto Bobbio: “A grandiosa utopia igualitária, a comunista, acalentada por séculos, traduziu-se no seu contrário na primeira tentativa histórica de realizá-la” (Bobbio, 2000, p. 123). É o que ele chama de “utopia invertida”. A catástrofe do comunismo histórico acha-se literalmente diante dos olhos de todos - a catástrofe do comunismo como um movimento mundial, nascido da Revolução Russa, que prometia a emancipação dos pobres e dos oprimidos, dos "deserdados da terra". O processo de decomposição está se movendo continuamente mais depressa, além de qualquer previsão. Isso ainda não significa o fim dos regimes comunistas, que poderiam se conservar muito tempo mais encontrando novas forças de sobrevivência. A primeira grande crise de um Estado comunista ocorreu na Hungria há mais de trinta anos e apesar disso o regime não entrou em colapso. A esse respeito, também, é mais prudente não fazer quaisquer predições. Neste momento de surgimento, em nosso continente, de uma onda enganadora de um tipo de socialismo ultrapassado (e fracassado) é oportuno reler Bobbio, o respeitado, influente e insuspeito filósofo e pensador político italiano, homem declaradamente de esquerda.
2. A UTOPIA INVERTIDA
A esquerda persegue o ideal de igualdade, a direita considera as desigualdades entre os homens não só impossível de serem eliminadas, como também úteis, na medida em que promovem a incessante luta pelo melhoramento da sociedade. Outra condição intrínseca à ideologia de esquerda é o respeito à liberdade de ação e expressão, que Bobbio reconhece ser cara, mas não privativa dos liberais. Ou seja, para ele, igualdade e liberdade não só se completam, como encarnam o pensamento de esquerda.
O que não pode ser negado, entretanto, é o fracasso, não exatamente dos regimes comunistas, mas da revolução inspirada pela ideologia