"Em que corpo cabe o feminino?" Estudo sobre transexualidade e gênero
Vivemos em uma cultura que nos ensina a entender e reproduzir um modelo de sexualidade bimodal e heteronormativo1. Este modelo funciona como uma condição para a inclusão e reconhecimento social. Qualquer característica ou comportamento que fuja desta perspectiva é passível de sofrer sanções por parte da sociedade.
Alguns indivíduos enfrentam uma questão bastante incompreendida e delicada: sofrem porque seus corpos são vistos por eles próprios como defeituosos, já que têm caracteres sexuais incompatíveis em relação ao gênero com o qual se identificam. Mas, afinal, o que é masculino e o que é feminino? Diversos fatores se misturam à polêmica em torno do fenômeno, e, enquanto isso, transexuais lutam pelo reconhecimento social da condição que enfrentam.
Os conceitos de sexualidade e gênero são primordiais para esta discussão, já que os conflitos pelo quais passam os transexuais são justamente uma expressão da desarmonia percebida entre corpo, desejo e expressão da sexualidade. “Sexo” e “gênero” são termos frequentemente confundidos e há diversas maneiras de diferenciá-los. Enquanto sexo diz respeito a macho e fêmea, gênero é o sexo atualizado socialmente, referindo-se à masculinidade e à feminilidade. Esta é a definição mais comum, porém não é a única. Há estudos recentes que trazem outras maneiras de pensar estes conceitos, e isto será abordado no decorrer do trabalho.
Este trabalho tem como foco a questão da transexualidade feminina, ou seja, pessoas que nasceram com caracteres genitais masculinos, mas buscam adequação ao sexo feminino. A definição do que é a transexualidade tem diferenças conceituais entre os pontos de vista explicitados na literatura médica, psicológica, psicanalítica, antropológica, sociológica, legal e mesmo no senso comum. Em geral, há em consenso a questão da nãoconformidade entre o sexo e o gênero, mas existe também uma confusão envolvendo o conceito de homossexualidade, de forma geral, e os outros casos de