Dúvida Metódica
A proposta de Descartes é fundamentar as bases para o pensamento científico engendrado na modernidade, já distanciado das concepções antigas, e respaldado por novos postulados e experiências. A questão, no entanto, se torna problemática, pois Descartes não consegue conceber verdades necessárias simplesmente por meio de novas experiências, é preciso que seja feita uma reflexão acerca dessas verdades, de tal modo que se possa garantir total certeza e constância sobre elas.
A via na qual ele encontra para iniciar essa reflexão é a dúvida metódica. Ele a leva a um novo patamar, tornando-a extremamente radical, ao ponto de desacreditar qualquer indício de não veracidade. O objetivo da dúvida é suspender todos os juízos pré-concebidos que se apresentam como duvidosos e incertos, mesmo aqueles que possuem uma razão mínima, mas que levam o sujeito a duvidar, são considerados como se fossem evidentemente falsos. Utilizando uma metáfora, o objetivo da dúvida metódica é: destruir os alicerces das crenças do sujeito, com a finalidade de que as antigas opiniões possam cair de vez.
Ser radical é uma característica que Descartes atribui a dúvida, entretanto, ela possui outras que estão na sua essência. O fato de ela ser exercida pela liberdade é uma característica importante, visto que, é preciso que o sujeito seja livre para que possa duvidar de seus juízos anteriores. Outro aspecto é a negação que ela traz consigo, pois ela vem a desempenhar o papel de negar as opiniões pré-estabelecidas, e não de embasá-las propriamente. Se junta a isso o momento em que ela desperta no sujeito, que é sempre de introspecção. Sendo assim, a dúvida metódica é: livre, radical, negativa e introspectiva.
A maneira em que a dúvida se desenvolve na primeira meditação está relacionada com a forma sistemática do pensamento cartesiano. Ele parte de argumentos mais simples para chegar aos mais complexos, e isso ocorre