A duvida metódica e o cogito
2.1- A Dúvida Metódica
2.1.1 - A função e as principais características da Dúvida Metódica
A função essencial da dúvida metódica é purificar o entendimento de todo prejuízo oriundo dos sentidos. Qual a razão desta preocupação com os sentidos? Em várias ocasiões, em especial nas aberturas dos Princípios da Filosofia e das Meditações Metafísicas,
Descartes chama a atenção para o fato de que antes de termos o uso perfeito de nosso entendimento somos obrigados a emitir juízos sobre várias coisas tomando como base os
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sentidos. Isso se dá porque no plano do homem concreto, isto é, do homem de carne e osso, e de suas ações ordinárias, a utilização dos sentidos é fundamental, pois é através deste uso que conservamos nosso corpo e nossa saúde. Na maior parte de nossas vidas somos forçados a julgar tendo como base os sentidos e não há perigo nisso. Ao contrário, recusar o testemunho dos sentidos em situações práticas revela-se aos olhos de Descartes uma grande insensatez. Neste plano, o dubitável é aceito sem maiores problemas. Contudo, o homem não é apenas um animal que quer se conservar, ele também é um entendimento que quer compreender. Assim, passa-se do plano prático para o plano da busca da verdade.
Embora Descartes recomende que devemos empregar a maior parte de nosso tempo em questões que envolvam o entendimento e os sentidos, e por outro lado, que nos preocupemos apenas algumas horas por ano em questões que envolvam apenas o entendimento puro, uma vez na vida é necessário empreender a busca de todas as verdades das quais é possível o conhecimento.1
O plano da busca da verdade, como foi adiantado acima no capítulo sobre o método, tem como objeto exclusivo aquilo que é indubitável. Não será necessário provar a veracidade de todos os juízos que até então emitimos. Basta evitar todo e qualquer juízo ou julgar a contrario até onde for possível. Este procedimento se