Doutor
12/7/08
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PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL
Das linhas globais a uma ecologia de saberes
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Boaventura de Sousa Santos
RESUMO
Na primeira parte do ensaio, o autor argumenta que as linhas cartográficas “abissais” que demarcavam o Velho e o Novo Mundo na era colonial subsistem estruturalmente no pensamento moderno ocidental e permanecem constitutivas das relações políticas e culturais excludentes mantidas no sistema mundial contemporâneo. A injustiça social global estaria portanto estritamente associada à injustiça cognitiva global, de modo que a luta por justiça social global requer a construção de um pensamento “pós-abissal”.
PALAVRAS-CHAVE: emancipação social; exclusão social; epistemologia; colonialismo; globalização.
SUMMARY
In the first part of the essay, the author states that the “abyssal” cartographical lines that used to demarcate the Old and the New World during colonial times are still alive in the structure of modern occidental thought and remain constitutive of the political and cultural relations held by the contemporary world system. Global social iniquity would thus be strictly related to global cognitive iniquity, in such a way that the struggle for a global social justice requires the construction of a “post-abyssal” thought.
KEYWORDS: social emancipation; social exclusion; epistemology; colonialism; globalization.
[1] Este texto foi apresentado em diferentes versões no Fernand Braudel Center (Binghamton, Nova York) e nas universidades de Glasgow, Victoria (Canadá), Wisconsin-Madison e Coimbra. Gostaria de agradecer os comentários de Gavin Anderson,Alison Phipps,Emilios Christodoulidis,
David Schneiderman, Claire Cutler,
Upendra Baxi, James Tully, Len
Kaplan, Marc Galanter, Neil Komesar, Joseph Thome, Javier Couso,
Jeremy Webber, Rebecca Johnson,
John Harrington, Antonio Sousa
Ribeiro,Joaquin Herrera Flores,Conceição Gomes e João Pedroso. Maria
Paula Meneses, além de