Diásporas, diversidades, deslocamentos
Diásporas, Diversidades, Deslocamentos
23 a 26 de agosto de 2010
DE DAMA DA ESCOLA DE SALERNO À FIGURA LEGENDÁRIA: TROTULA DE RUGGIERO ENTRE A NOTORIEDADE E O ESQUECIMENTO1
Karine Simoni2 Sabe-se que os preconceitos que por longo tempo serviram para caracterizar o medievo como palco de violência, barbárie e superstição hoje estão superados. Pensadores como Voltaire e Michelet criticaram a escrita eminentemente política da história3, mas foi somente no século XX que a historiografia voltou-se para o estudo da sociedade como um todo. No caso da história medieval, os historiadores têm concordado em reavaliar a complexa civilização do período, mostrando outras facetas das experiências humanas, tais como linguísticas, literárias, artísticas, sociais e culturais. Dentre os objetos revistos está o papel da mulher medieval. Em geral, o medievo é visto como masculino e misógino, no qual a mulher era considerada Maria ou Eva, santa ou pecadora. É certo que nesse período a mulher estava relativamente priva de direitos; essencialmente dependente da tutela de um homem (do pai, do marido ou dos parentes) e destinada aos serviços domésticos, ao matrimônio ou ao convento. Porém, por outro lado, é difícil sustentar a hipótese de uma marginalização generalizada da mulher medieval. Através de documentos notariais, por exemplo, sabe-se que muitas figuras femininas agiam de forma independente, administavam negócios, pagavam impostos, trabalhavam como professoras, escritoras, farmacêuticas, médicas, rainhas. É o caso de Heloísa, Maria de França, Hildegarda, Eleonora de Aquitania (século XII), e Catarina de Siena (século XIV), para citar alguns nomes. Se ao longo do tempo foi comumente aceito que as mulheres ficaram à sombra de um mundo dominado pelo masculino, a tendência atual é a de revisão desse paradigma. A história das mulheres, geralmente escrita por homens e com base em fontes elaboradas por autores masculinos e escolásticos, está sendo substituída por