dialogismo ou polifonia
MARIA LETÍCIA DE ALMEIDA RECHDAN
Departamento de Ciências Sociais e Letras
Universidade de Taubaté
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar um artigo de opinião (Folha de São Paulo, 1º de abril de 2000) para verificar a presença do dialogismo neste gênero, desmitificando essa tendência a generalizar os gêneros como polifônicos, segundo Bakhtin (apud BRAIT, 2000). Para constatação desta afirmação, discorreremos sobre alguns postulados teóricos que nos serão imprescindíveis para este estudo: a enunciação, destacando o conceito de tema e significação, dialogismo, polifonia, sujeito, heterogeneidade, gênero em Bakhtin (1981, 1992, 1997, 2002), em estudiosos de sua teoria, como Brait (1996, 1999, 2000), Brandão (1995), Clark e Holquist (1998), Koch (1987, 1998), Maingueneau
(1989). Em se tratando de artigo de jornal, julgamos importante mencionar Fowler (1991), analista crítico do discurso, que fez um estudo minucioso sobre o papel da estrutura lingüística na construção das idéias na imprensa.
PALAVRAS-CHAVE: dialogismo; polifonia; heretogeneidade; gênero
INTRODUÇÃO
Tema e Significação
Segundo Bakhtin (1992), a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados, pois sua natureza é social. A enunciação não existe fora de um contexto sócio-ideológico, em que cada locutor tem um “horizonte social” bem definido, pensado e dirigido a um auditório social também definido. Portanto, a enunciação procede de alguém e se destina a alguém. Qualquer enunciação propõe uma réplica, uma reação.
Toda enunciação completa é constituída de significação e de tema ou sentido. Esses dois elementos integram-se, formando um todo, e sua compreensão só é possível na interação. A significação é a parte geral e abstrata da palavra; são os conceitos que estão nos dicionários responsáveis pela compreensão entre os falantes. Os elementos da enunciação, reiteráveis e idênticos cada vez que são repetidos,