Dialogismo e Polifonia na música de Caetano Veloso - "TROPICÁLIA"
1. Introdução
Traço fundamental do pensamento de Bakhtin, o dialogismo aparece em toda a sua obra como característica básica da linguagem e elemento central do enunciado, constituindo, por isso, a substância de seu sentido, já que “a língua penetra na vida através de enunciados concretos que a realizam, e é também através de enunciados concretos que a vida penetra na língua” (BAKHTIN, 1990, p.282).
Os estudos de Bakhtin a respeito da linguagem estão vinculados à noção de dialogia, uma vez que a teoria formulada por ele confere à linguagem uma natureza social, ao atribuir-lhe uma dimensão interativa, que dela não pode ser abstraída. Sendo assim, a situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam inteiramente a estrutura da enunciação, uma vez que não há enunciação sem troca, sem diálogo e não há diálogo sem contexto social,
"A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade de fala". (Bakhtin 1986, p.121),
Ao estabelecer o dialogismo como um princípio constitutivo da linguagem, o autor define a interação verbal locutor/alocutário e o jogo de vozes no interior do discurso. No primeiro caso – da dialogia – argumenta que o outro tem papel indispensável na formulação dos sentidos no discurso do locutor, instando que nenhuma palavra é individual, mas repleta da voz do outro: o falante nunca acha a palavra despovoada das vozes dos “outros”, pois nunca a encontra de forma neutra, sem o ponto de vista de “outros”. No segundo caso, refere-se justamente ao jogo existente no interior do discurso literário, de vozes que, oriundas de um raio social abrangente, explicitam elos que dialogam entre si, que se complementam quando o cruzamento dos discursos religioso, político ou histórico contribui