Desenho - a transparencia dos signos
Pedro A. H. Paixão
Assírio & Alvim
2008
ISBN: 978-972-37-1297-1
I
Disegno (...) é só com LEON BATTISTA ALBERTI ((1404 - 1472)) que o vocábulo assume a acepção semântica de «ciência» ou «disciplina», tal como o conhecemos hoje.
As bases de tal intenção foram esboçadas no seu tratado De Pictura (1435/36)
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LORENZO GHIBERTI. segundo ele, o artista «moderno» já não pode prescindir de se tornar «perito da escrita e mestre em geometria, que conheça tantas histórias ou diligentemente tenha ouvido filosofia, e seja instruído em medicina, e tenha ouvido astrologia, e seja douto em perspectiva e ainda perfeitíssimo desenhador (...), o desenho é o fundamento e teoria destas duas artes». ((pintura e escultura))
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Este é o momento exacto, a primeira parte do Quattrocento, em que se assiste à passagem do desenho de arte mecânica a liberal. (...) Tinha-se superado uma época em que o desenho era apenas um dos meios mecânicos auxiliares para a realização das obras figurativas pelas demais ars mechanica em uso nas oficinas.
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(...) Portanto, Alberti recusa o preconceito de um desenho como simples «auxiliar gráfico», faber ou mestre-de-obras medieval, dependente unicamente do gosto ou das ordens de um mecenas ou patrono, (...)
O desenho, com a sua capacidade de dar a ver e de estudar o «projecto» e as leis íntimas que governam e produzem a natureza, permite agora, ao invés, que o arquitecto, o escultor e o pintor, eles mesmos, operem como auctores - como projectistas ou criadores, indivíduos capazes de engegno, i.e, de exercitar os seus próprios poderes intelectuais nas encomendas que recebem.
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É com esta ordem de razões que, cerca de um século e meio depois, Francisco de Holanda dirá que o desenho é a «raiz de todas as sciencias» ((1517-1585))
p.25
Esta nova atitude perante o desenho tornará possível, p. ex. - da parte dos artistas -, resgatar as leis «objectivas» da visão, delegadas até aí à Optiké