fichamento Marcel Duchamp
A projeção de um objeto que não podemos ver com os sentidos; o que vemos – esquemas, mecanismos, diagramas – é apenas uma de suas manifestações no modo mecânico-irônico. Deve ser decifrado. Numa espécie de prova de iniciação: quem nos apresenta a advinhação é uma virgem que também é uma máquina.
Outra semelhança entre o mito e o quadro: para afrontar o enigma não contamos, como os heróis, senão com o que nos sobra de inocência – as notas da Caixa Verde. “A Noiva é um corpo feito de reflexos, alusões e transparências. Sua claridade nos ofusca e temo que, frente a ela, este texto seja como a lâmpada de gás que empunha a mulher da Conjugação do Museu de Filadélfia.” (página 63) É um mito erótico, ainda que seja um esqueleto, é um esqueleto nú.
“La Mariée ... se desvenda diante de nós como a imagem da contradição.” (p. 63)
“Peut-être faire um tableau de charnière” [“Talvez fazer um quadro de charneira”], nota da Caixa Verde, A expressão, aplicável a toda a sua obra, é particularmente justa no caso do Grande Vidro. Ao girar sobre seu gonzo, a nota “retard em verre” [espécie de subtítulos] nos leva a outra composição, que, tanto no sentido musical como nos outros é seu resolução.