Deleuze
Deleuze
Post-scriptum sobre as sociedades de controle
A linguagem utilizada pela sociedade disciplinar é analógica, ao passo que a linguagem utilizada pela sociedade de controle é numérica. A empresa substitui a fábrica moldando cada salário de acordo com o desempenho de cada um fazendo, assim, que o indivíduo veja o tempo como um rival. Assim como a empresa substitui a fábrica, a formação permanente substitui a escola; o controle contínuo substitui o exame.
Enquanto nas sociedades disciplinares não se para de recomeçar (da escola à caserna, da caserna à fábrica etc.), nas sociedades de controle nunca se termina nada.
A sociedade disciplinar tem dois polos: a assinatura que indica o indivíduo e o número de matrícula que indica sua posição na massa. Nesta, o corpo é único, massificante e individuante.
Nas sociedades de controle o essencial é uma cifra (senha), que marca acesso à informação ou rejeição. O indivíduo tornou-se dividual e as massas tornaram-se amostras, dados, mercados.
O dinheiro é o elemento que melhor distingui as duas sociedades. Na disciplinar, a moeda é a medida padrão. Na sociedade de controle o que vale são as trocas flutuantes, as molduras do mercado. A velha toupeira é o animal dos meios de confinamento, enquanto que a serpente é o animal das sociedades de controle.
O homem da disciplina era um produtor descontínuo de energia, mas o homem do controle é antes ondulatório, funcionando em órbita, num feixe contínuo.
Pode-se corresponder cada sociedade a certostipos de máquinas. Nas sociedades antigas de soberania manejavam-se máquinas simples, alavanca, relógios; nas sociedades disciplinares, máquinas energéticas, ao passo que nas de controle opera-se computadores e a informática.
Não há uma revolução tecnológica sem antes haver uma mutação do capitalismo. O capitalismo do século XIX, segundo Deleuze, é de concentração, voltado para a produção e a propriedade. O capitalismo atual não é mais dirigido para a