Deleuze
DOSSIER DELEUZE
HÓLON
EDITORIAL
Um exame rigorosamente completo da obra do filósofo Gilles Deleuze — numa seleção de textos e análise do prof. Carlos Henrique de Escobar
Depois de uma primeira etapa consagrada a trabalhos da história da filosofia, que teria culminado com o Nietzsche (1962), Gilles Deleuze elaborou com Diferença e Repetição (1969) — e depois com os dois volumes de Capitalismo e Esquizofrenia (1972 e 1980), escritos com Félix Guattari — uma filosofia própria. E, após escrever sobre pintura e sobre cinema, retorna com uma abordagem mais clássica da filosofia — porque, para ele, a filosofia tem uma função que permanece perfeitamente atual: criar conceitos.
Para Gilles Deleuze o que interessa é o conceito (que comporta duas outras dimensões, as do percepto e do afeto), e não as imagens. Os perceptos não são as percepções, mas conjuntos de sensações e de relações que sobrevivem àqueles que as experimentam; e os afetos não são sentimentos, mas esses devires que desbordam o que passa por eles. A filosofia tem necessidade não somente de compreensão filosófica, por conceitos, mas de uma compreensão não--filosófica, a que opera por perceptos e afetos. Ambos são necessários. A filosofia está numa relação essencial e positiva com a não--filosofia: ela se dirige diretamente aos não-filósofos.
Um grande filósofo é aquele que convence seus leitores a levar doravante uma vida filosófica. Gilles
Deleuze os convence. Não é necessário que todos tenham êxito nisso; é suficiente que todos que o leiam percebam que tal vida está doravante aberta.
A importância de Gilles Deleuze, como a de todo filósofo autêntico, consiste em que, à diferença da maior parte dos filósofos de hoje, ele não encontra, onde quer que vá, nada que seja da ordem da ideologia.
Gilles Deleuze segue um método. Ele introduziu na filosofia, ou retomou nela explicando-os, um certo número de conceitos que não tinham aí nem esse lugar nem essa duração,