Da oralidade para escrita
Coruja e a águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.
— Diz a coruja - Basta de guerra.
— O mundo é grande, e a tolice maior que o mundo é andarmos comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia.
— Também eu não quero outra coisa.
— Nesse caso combinemos isso, diz a coruja: - — De agora em diante não comerás nunca os meus filhotes. — Muito bem-diz a águia: - Mas como posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil, diz a coruja. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
— Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.
— Quê? — disse esta admirada a águia. — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos ? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense, s/d, 20ª edição.
[pic] Esta fábula de Monteiro Lobato é uma das dezenas de varições feitas através dos séculos das fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC. Suas fábulas foram reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC. Desde então tornaram-se clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, reescreveram e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a