Oralidade E Escrita
EM SOCIEDADES DE ORALIDADE SECUNDÁRIA
José Mario Botelho (FFP-UERJ e ABRAFIL) botelho_mario@hotmail.com 1.
Introdução
Muitas são as pesquisas que se fizeram em torno da comparação entre a linguagem falada e a linguagem escrita, com o objetivo de estabelecer as características que as distinguem e as que as aproximam. Entretanto, alguns pesquisadores se preocuparam com outros aspectos desses dois fenômenos, que vinham sendo vistos por muitos como meras modalidades de uma dada língua.
A identificação de uma oralidade anterior ao advento da escrita, por exemplo, é um desses aspectos. A partir de tal identificação, esses estudiosos procuraram refletir sobre como a prática da escrita transformou a prática da oralidade.
Logo, há também quem se preocupa com o fato de a oralidade das comunidades modernas – comunidades de oralidade secundária – se caracterizar como um fenômeno oral que se assemelha à escrita, o que confere à oralidade uma prática do letramento.
Especial atenção recebe, neste trabalho, a tese de Ong (1982) acerca da caracterização de uma oralidade primária e seu processo de memorização de conhecimento, que se distinguia do da oralidade secundária. O autor esclarece que a oralidade primária – oralidadede uma cultura oral essencialmente – caracteriza-se pela repetição de estruturas formulares na interação social oral, e que a secundária, por ser a oralidade de uma cultura fundamentalmente escrita, caracterizase pelo registro em livros e em outros meios tecnológicos.
De fato, não desenvolveremos nenhum tipo de digressão acerca dessa tese de Ong, por não ser o nosso objetivo. Deter-nos-emos no fato de ser a oralidade que se efetiva paralelamente à prática da escrita uma prática de letramento e de serem letrados todos os membros normais de tal sociedade, porquanto inevitavelmente se estabe-
3087 lece um ciclo de influências mútuas (BOTELHO, 2001) entre a oralidade e a escrita como práticas sociais das sociedades atuais.