ORALIDADE E ESCRITA
A EMERGÊNCIA DO CAMPO DE ESTUDOS
Os estudos que buscam investigar culturas orais e escritas emergiram, sistematicamente, no início dos anos 1960.
Havelock (1995) localiza, entre 1962 e 1963, quatro publicações fundamentais que contribuíram para a constituição desse novo campo de pesquisas. Esses trabalhos, versando sobre temas diferentes e originários de países diversos, tinham em comum o fato de colocarem a oralidade em destaque: em 1962, foram publicados The Gutenberg Galaxy1, de McLuhan, no Canadá, e La pensée sauvage2, de LéviStrauss, na França; em 1963, Jack Goody e Ian Watt publicaram o artigo “The consequences of literacy”3 na Inglaterra, e Eric Havelock publicou Preface to Plato4 nos Estados Unidos.
Naquele momento, as próprias transformações porque passavam os meios de comunicação contribuíram para que a oralidade e a escrita fossem reconsideradas objeto de estudo de destaque, segundo Havelock (1995).
Na mesma direção, Ong (1998) situa nas décadas de 1960 e 1970 esse movimento acadêmico de análise das relações entre culturas orais e escritas.
Os trabalhos realizados nesse período, em diversas áreas de conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia, enfatizaram o caráter oral da linguagem e as profundas implicações, em todos os níveis, da introdução da escrita em culturas tradicionais. Muitas dessas pesquisas debruçaram-se, por meio de trabalhos de campo, sobre sociedades ainda orais, buscando vestígios daquilo que se convencionou denominar oralidade primária: “melodias, cantos, epopeias, danças, exibições e músicas, ainda preservados oralmente e transmitidos de geração a geração entre as sociedades tribais...” (Havelock, 1995).
De maneira semelhante, Cook-Gumperz e Gumperz (1981) situam as origens das pesquisas sobre os efeitos culturais do letramento nos estudos de folcloristas e pesquisadores da área de literatura que investigaram os processos pelos quais os grandes épicos eram transmitidos nas sociedades não