Muito se tem dito sobre as possibilidades de expressão do corpo em nossa sociedade contemporânea. Contudo, a noção de corpo suscita, de imediato, um questionamento central: que corpo e que concepção de corpo estamos buscando ao longo de nossa história, tendo em vista que a espécie humana, de alguma forma, muito antes da polis grega, já teria construído algum tipo de conhecimento sobre o corpo. Podemos dizer que o marco referencial da discussão em busca da corporeidade tem sido aquilo que se passou a denominar de conhecimento moderno, ou seja, aquele conhecimento que emergiu a partir da crise do feudalismo com a chamada Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, retomando, por assim dizer, o logos grego por meio de releituras de obras como as de Platão e Aristóteles, o que proporcionou a emergência de uma epistême renascentista que iria fundar novas bases para o conhecimento moderno e, por conseguinte, uma grande transformação nos diferentes aspectos do fazer humano1. Neste período, do Renascimento, a Filosofia e a Ciência seguiam uma única direção, qual seja: a busca por verdades indubitáveis2. A filosofia de Descartes fundou-se numa filosofia reflexiva, isto é, cada vez mais o ser humano é levado a refletir, buscando conhecer-se; já o conhecimento científico fundou-se excluindo o sujeito do seu objeto de conhecimento. Observou-se uma ruptura entre a reflexividade da Filosofia, ou seja, a possibilidade do ser humano pensar e refletir e a objetividade do saber científico. Surge, assim, uma ciência sem consciência. O abandono da noção de humano, o fazer humano nas ciências humanas, por outras palavras, o homem acabou por "desaparecer". A vida, como um todo, deixou de ser objeto de reflexão (FLORENTINO, 2006). Assim, no que tange à educação e, porque não dizer, à educação corporal, essa passou a se pautar nos pressupostos do racionalismo moderno, o qual instituía códigos morais que ditavam as condutas, reprimindo as diversas manifestações (expressivas) do