Civilização e civilidade
Maria Juraci Maia Cavalcante
Esta reflexão tem como finalidade primordial suscitar a discussão acerca dos pontos de ligação e separação quanto ao significado de Civilização, Civilidade, Civismo e Direitos Humanos. Trata-se de uma discussão afecta aos campos da Filosofia, História, Sociologia e Ciência Política, onde a noção de Civilidade está relacionada com a existência e o respeito a valores e normas de convívio entre os integrantes de uma dada sociedade, que, por sua vez, resultaria de uma complexa construção societária datada e parte de uma mudança no modo de organização e conhecimento político do fenómeno social.
O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) tratou a noção do ser civilizado como resultante de um processo histórico que, no caso da Europa, tem relação com o contacto cultural estabelecido com o Oriente e o Novo Mundo, o qual assinalaria, a partir do século XVI, o advento da chamada Modernidade, assinalada pelo Mercantilismo em escala global, o Colonialismo e o fortalecimento de configurações nacionais e monárquicas. Desde então, teria surgido a diferenciação entre Civilizações e Culturas, passando as primeiras a ser consideradas superiores e/ou complexas e as segundas inferiores e/ou primitivas.
Civilização e Civilidade têm historicamente pontos de conexão importantes porque será no interior das ditas «nações civilizadas» da modernidade que nascerá o conceito de Civilidade, quando o poder absoluto dos dirigentes monárquicos acabará por ser pouco a pouco substituído por uma regulação política de natureza constitucional e republicana. Elias chama a nossa atenção para os pontos de contacto entre Civilidade e Bons Costumes, ao analisar a proliferação de «manuais de etiqueta», nos séculos XVI e XVII, destinados a educar a realeza e a nobreza, com vistas a