Cidade para pessoas
Gehl, crítico do urbanismo modernista, defende o que chama de planejamento com dimensão humana. Argumenta que a ideologia funcionalista e rodoviarista do modernismo privilegiou os carros antes das pessoas, os edifícios em lugar do espaço público, o planejamento “visto da janela de um avião” ao invés de pensá-lo a partir do nível da rua. Afirma: “Nos tempos antigos, sempre se pensou nessa ordem: pessoas, espaços e edifícios. Até que se inverteu a ordem: edifício, espaços e pessoas” (1).
Neste texto abordaremos as ideias de Gehl a partir do capítulo do seu livro intitulado “A Síndrome de Brasília”. Este é o termo cunhado Gehl para designar a inexistência ou a desconsideração do que ele conceitua como escala humana no planejamento urbano modernista, tomando a capital do Brasil como seu mais destacado exemplo.
Gehl entende que o planejamento urbano envolve três níveis de escala: a grande escala, correspondente ao projeto concebido desde uma perspectiva aérea macro; a média escala correspondente ao projeto de bairros ou áreas determinadas da cidade, ainda com a perspectiva aérea, embora em baixa altitude, e a pequena escala, que é “a cidade experimentada pelas pessoas que a utilizam ao nível dos olhos” (2).
“Vista do alto, Brasília é uma bela composição”, admite Gehl, mas “a cidade é uma catástrofe ao nível dos olhos”, acrescenta. “Os espaços urbanos são muito grandes e amorfos, as ruas muito largas, e as calçadas e passagens muito longas e retas” (3).
Recorrendo aos conceitos defendidos por Gehl, percebe-se que o seu pensamento é frontalmente antagônico ao planejamento urbano modernista, proposto por Le Corbusier e seus seguidores nos Congressos Internacionais de Arquitetura