Cap. 10
O habitar confiado e o aprender “com”
Viemos até agora analisando o espaço destinado, no saber psicológico, aos discursos de caráter eminentemente teórico, apontando os lugares nos quais eles se mostram insuficientes, e a necessidade de sua articulação através de outros tipos de conhecimento que lhes são alheios. Vimos o quanto os discursos teóricos se constituem no veículo por excelência do conhecimento na metafísica, colocando o mundo disponível diante de nós para cálculo e manipulação, através da representação. Exploramos ao mesmo tempo a possibilidade de instituição de uma outra fala, que nasce da ruptura com os modos cotidianos de interpretar o mundo e que institui o trânsito para o que, nele, se mantém como enigmático, não para representá-lo, mas para dirigir nosso olhar e nossa escuta para aquilo que pode se mostrar como surpresa, como o que contraria nossas expectativas.
Finalizada a análise de um segmento que nos evidenciou o modo de aprender "sobre" um mundo que está lá, estendido diante de nós por meio de sistemas organizados, inicia-se um novo, que visa apresentar um outro aprendizado, que chamaremos de aprender "com": aprender com a surpresa, com a alteridade irredutível, e que parte do encontro com a alteridade como o mínimo necessário.
Voltando à condição múltipla do saber psicológico observamos que ele, em princípio, evidencia um impasse quanto ao estabelecimento de uma identidade profissional única, quer dizer, é difícil precisar até que ponto é possível falarmos de uma única Psicologia, posição que pode ser estendida para a formação de nossos alunos.
Uma profissão caracterizada por uma variedade grande de matrizes de pensamento, por uma multiplicidade de campos de atuação possíveis, além das alterações de percurso vividas pelos praticantes ao longo de suas vidas profissionais acaba por dificultar a definição de uma identidade, que acaba por se constituir não mais a partir de aspectos que podem torná-los iguais uns aos outros,