canto dos malditos
CARRANO, Austregésilo. Canto dos malditos. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
SEQUELAS... E... SEQUELAS
Seqüelas não acabam com o tempo. Amenizam.
Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho dó de mim. Nó na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro.
Ainda hoje, anos depois, a espera é por demais agoniante.
Horas, minutos, segundos são eternidades martirizantes. Não começam hoje, adormeceram, a muito custo... comigo.
Esta espera, oh Deus! É como nunca pagar o pecado original. É ser condenado à morte várias vezes.
Quem disse que só se morre uma vez?
Sentidos se misturam, batidas cardíacas invadem a audição. Aspirada a respiração não é... é introchada. Os nervos já não tremem... dão solavancos. A espera está acabando. Ouço barulho de rodinhas.
A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da porta rodam a fechadura. Já não sei quem e o que sou. Acuado, tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado... escuto parte do meu gemido. Quem disse que só se morre uma vez?
Austregésilo Carrano
Poema das 4 horas de espera para ser eletrocutado... (aplicação da eletroconvulsoterapia)
11
Capítulo 1 COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ, ano de 1974. Um grupo de jovens estudantes reúne-se nas escadarias, todas as noites, antes das aulas. Repartem seus sonhos, histórias, inseguranças e aventuras de adolescentes. Um grupo de jovens especiais, ligados por uma afinidade secreta, que desperta a curiosidade e alguma inveja dos outros adolescentes. Este grupo é diferente, rebelde, roupas exóticas, cabelos compridos e fala estranha. Comunicam-se com uma certa superioridade e desenvoltura, trocam experiências de um mundo misterioso e envolvente que atrai a curiosidade de todos: as drogas. — Bicho, ontem no foto Clic pintou um vidro de Artane. — Pára com isso, Artane é uma