conde lautremont

1073 palavras 5 páginas
O livro Os Cantos de Maldoror foi publicado em 1969, mas de maneira discreta - seu editor temia represálias e processos que poderiam advir de uma obra com tamanho teor de perversão. Zoofilia, pedofilia, homossexualismo e sadomasoquismo são os temas prediletos do microcosmo do autor, que os coroa sempre com uma provocante naturalização da loucura, do imoral, do perverso. O conde de Lautréamont, cujo nome real era Isidore Ducasse (1846-1870), nasceu no Uruguai, perdeu a mãe aos 2 anos e quase não conviveu com o pai, tendo estudado toda a vida na França. Vêm de lá suas principais leituras - Lord Byron (1788-1824), Alfred de Musset (1810-1857), Charles Baudelaire, além de Eugène Sue (1804-1857), autor de Os Mistérios de Paris, de onde retirou o pseudônimo. Provocador, o conde abre sua obra incitando o leitor a encontrar "seu caminho abrupto e selvagem, através dos pântanos desolados destas páginas sombrias e cheias de veneno", da mesma forma que Baudelaire inicia As Flores do Mal conclamando o leitor a sentir-se libertino como ele, "um igual, um irmão". Que Lautréamont aprendeu muito da leitura de Baudelaire é algo consensual entre os críticos. Passagens de Os Cantos de Maldoror sugerem um Ducasse-Lautréamont vasculhando bibliotecas, à procura de textos de Baudelaire. A genealogia baudelairiana fica patente, por exemplo, no canto sexto, no qual Maldoror se contempla diante de um espelho e se acha belo. "Espectador impassível das monstruosidades adquiridas ou naturais, que decoram as aponeuroses e o intelecto de quem vos fala, lanço um prolongado olhar de satisfação à dualidade que me compõe... e me acho belo!", diz o personagem, embebido da mesma substância amoral que nutria as estrofes do Hino à Beleza das Flores do Mal. E ele arremata mergulhando no orgânico sinistro desse microcosmo: "Belo como o vício de conformação congênito dos órgãos sexuais do homem, que consiste na brevidade relativa do canal da uretra e na divisão ou ausência da parede inferior, de modo que

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