Na introdução, os autores apontam a importância de Canguilhem no início na contrução da Saúde Coletiva brasileira, pois vários autores basearam seus estudos em obras dele, de Foucault e de Bachelard. Fala-se também da hipótese de que essa referência seria para esconder a base teórica marxista presente nas obras brasileiras, por causa da censura. Foucault parou de ser usado como base, mas Canguilhem não. Na segunda parte do texto, “Normalidade e Patologia”, fala-se da discordância de Canguilhem com a teoria vigente na época. No séc XIX, a saúde e a doença eram consideradas quantitativamente diferentes, ou seja, a doença diferia da saúde no nível de intensidade de certo estímulo, ou, como é colocado no texto: “a saúde e a doença não passavam de um mesmo estado e dependiam de estímulos que variavam, nos diferentes casos, apenas no nível de intensidade.” (pg.16). Essa era a ideia de Broussais, e Comte se baseou nela para “determinar as leis da normalidade” (pg.16) do positivismo. Por achar essa teoria muito abstrata e que ela deixava muitas lacunas, Canguilhem defendeu que o normal e o patológico eram qualitativamente diferentes e opostos. Como colocado pelos autores: “Para Canguilhem (1943), o conteúdo do estado patológico não pode ser deduzido, de maneira lógica ou analógica, do conteúdo da saúde, pois o primeiro é uma nova dimensão da vida, uma estrutura individual modificada.” (pg. 17).Além disso, Canguilhem não acreditava na premissa de que o normal seria caracterizado pela saúde, que era vigente na época, e sim que “o patológico também seria normal, pois a experiência do ser vivo incluiria a doença” (pg. 19). A doença seria a não capacidade de habituação ao estado que se está e a cura não seria, então, o mesmo que saúde, e sim o retorno a um estado estável de vida. Além disso, a norma do que é normal ou não mudaria de um local para o outro, de um grupo para o outro e até mesmo de uma pessoa para a outra, ou seja, o normal é individual, portanto, qualitativo.