Barao Do Rio Branco
O Barão do Rio Branco no Itamaraty (1902–1912)
Baron of Rio Branco in Itamaraty (1902–1912)
Clodoaldo Bueno*
Rev. Bras. Polít. Int. 55 (2): 170-189 [2012]
Introdução
Pode-se afirmar que quase tudo que se refere à atuação de José Maria da
Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, na condição de ministro das relações exteriores do Brasil está desvendado. Se do ponto de vista factual infere-se que quase nada mais resta para vir à luz, o mesmo não se dá no que diz respeito à interpretação de seus atos, nomeadamente as decorrências que eles provocaram em longo prazo. Teses novas sempre podem ser levantadas. O que vem a seguir é uma sistematização de alguns conceitos sobre o Barão, com acréscimos interpretativos, no referente à política externa, com a pretensão de se tocar no essencial de modo a contribuir para ampliar a compreensão do que seria o mais relevante no período que esteve à frente da chancelaria brasileira. Em 2012 se comemora o centenário de seu falecimento (no seu ambiente de trabalho), e é politicamente propício para se revisitar o legado do patrono da nossa diplomacia, até porque o País movimenta-se no contexto regional de forma oposta àquela do Barão, embora a América do Sul de hoje possua alguns traços conjunturais formalmente semelhantes àqueles em que ele atuou. Em termos globais, na primeira década de 1900, assistiu-se ao início de um processo de crise internacional gestada nas contradições da economia liberal.
O contexto mundial era multipolar em transição para a formação de blocos (Lessa
2005, 119–21), caracterizado pelo nacionalismo e pela agressividade, geradores de disputas interimperialistas, incidentes diplomáticos, provas de força e corrida armamentista, componentes de um cenário que anunciava o fim de um período de expansão e prosperidade das economias industriais. A crise da era dos impérios desembocou na Grande Guerra (1914–1918), marco histórico do fim efetivo do século 19, este identificado com a pax britannica. Fora do