BANALIDADE DO MAL
Hannah Arendt e o julgamento de Eichmann em Jerusálem
Xénia de Carvalho
Publicado no semanário Domingo (Maputo), secção Cultura, Livros e Leituras,
29 de Janeiro de 2012
Hannah Arendt (1906-1975), jornalista, filósofa, teórica política, judia laica, professora universitária, nascida na Alemanha, detida pela Gestapo (polícia secreta do Estado alemão criada em 1933), emigrante forçada em Paris, prisioneira no campo de concentração nazi de
Gurs em França (antigo campo de refugiados da Guerra Civil espanhola), apátrida e exilada sem direitos políticos até 1951 quando adquiriu a cidadania norte-americana, foi responsável por uma das obras de referência do século XX, As Origens do Totalitarismo (1951).
Hannah viveu num dos períodos mais conturbados da Europa, assistiu à consolidação de um dos regimes políticos mais marcantes da nossa era, o nazismo ou Terceiro Reich (1933-1945), fundado em torno da perturbada figura de Adolf Hitler. Político que movia multidões num período de crise económica e social, obcecado pela perseguição e eliminação física dos judeus, dos ciganos, dos homossexuais, das prostitutas, dos deficientes, dos comunistas, dos cidadãos dissonantes da sua visão do Homem Novo. Mas não nos cabe aqui falar desse homem, mas de um outro, um ser humano comum, um burocrata num regime totalitário. Cabe-nos falar aqui de
Adolf Eichmann, um dos arquitectos da Solução Final, do desenho dos campos de concentração nazi para eliminação dos cidadãos indesejáveis, responsável pela identificação, deportação e extermínio de milhões de judeus para os campos de concentração nazis, um eficiente funcionário do Estado alemão, louvável pelo seu esmerado desempenho. Cabe-nos aqui falar de uma das reportagens jornalísticas que abalaram o mundo, a de Hannah Arendt, aquando do julgamento de Eichamnn em Israel.
Em 1961 o The New Yorker enviou Hannah a Israel para cobrir o julgamento de Eichmann, que viveu incógnito, sob outra