banalidade do mal
Talvez se tenha tornado comum afirmar que vivemos em tempos difíceis ou, para usar uma expressão arendtiana, em tempos sombrios. Crise econômica e do sistema financeiro, crise de confiança nas instituições, crise de valores, crise energética, crise de sustentabilidade, mudanças climáticas e catástrofes ambientais, crises dos paradigmas, mudanças epistemológicas, guerras e terrorismos, intolerâncias religiosas e, não menos grave, crise do sistema educativo. Tempos tão difíceis ou sombrios que talvez já tenhamos escutado a expressão crise de época, para sinalizar que não vivemos simplesmente mais uma época de crises.
Seria legítimo, então, perguntar-nos sobre que papel poderia desempenhar, nesses tempos sombrios, o pensamento educacional ou como ele nos poderia ajudar a compreender e a superar os desafios que se impõem. Arendt (1987, p. 7), ao analisar os horrores do século passado, afirmava que os tempos sombrios não são novos e não constituem uma raridade na história. No entanto, [...] mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na terra (idem, ibidem).
É com esse ponto de vista que gostaria de sugerir a retomada de um episódio marcante na vida dessa pensadora perspicaz: o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann. Diante de um estranho réu, Hannah Arendt confrontou-se com as sombras e as dificuldades de seu tempo. Talvez ela também tenha pistas – luzes incertas – para pensar nossas sombras; talvez possamos repensar com ela a tarefa educativa, principalmente no que tange ao ensino e à difusão de valores morais. É nessa perspectiva que tratarei de analisar a obra arendtiana, com especial atenção aos livros Eichmann em Jerusalém e A