bakhtin e a vida dos outros
Bakhtin e a “vida dos outros”
Marina Pinheiro
Psicóloga, doutoranda em Psicologia Cognitiva, pela
Universidade Federal de Pernambuco.
End.: R. Manoel de Carvalho, n.226, apt. 302, Aflitos.
Recife-PE. Cep: 52050-370.
E-mail: marinaassis.pinheiro@gmail.com
Selma Leitão
D. Phil, Professora Adjunta da Universidade Federal de
Pernambuco. Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE.
End.: R. Clóvis Beviláqua, n.163, apt. 1203, Madalena.
Recife, PE. Cep: 50710-330.
E-mail: selma_leitao2001@yahoo.com
Resumo
O crítico literário e filósofo Mikhail Bakhtin é nome que circula em diversas áreas na atualidade das Ciências Humanas. Um dos principais representantes do dialogismo, Bakhtin oferece-nos uma perspectiva estética ao entendimento dos processos de subjetivação, em que seria a singularidade humana um destacado pressuposto de suas reflexões. É através da leitura do filme A vida dos outros (Buena Vista Internacional, 2006; direção de Florian
Revista Mal-estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. X – Nº 1 – p. 87-110 – mar/2010
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Henckel von Donnersmarck) como possível metáfora bakhtiniana, que se propõe o presente artigo enquanto campo de refração aos debates sobre as relações entre singularidade e autoria na produção do “si mesmo”. A referida película dispõe-nos à saga que Gerd Wiesler, um exemplar agente secreto da STASI (polícia política da Alemanha Oriental), é lançado ao ser encarregado de observar a vida de um casal de artistas, suspeitos de subversão aos ideais da República Democrática Alemã. Mobilizado pela intimidade diaresca do casal, Wiesler encontra, através de sua unicidade responsiva, uma cena possível para redescrição de si. Arrebatado pela observância a que foi designado, o herói roteiriza o destino de seus observados num duelo com a alteridade inescapável de sua própria história. A vida dos outros é, assim, lugar descentrado, donde um “eu” passa a