Relações dialógicas
Renata Pucci
Limitarei-me aqui em discorrer de maneira deveras breve sobre pontos que permeiam a idéia de um sujeito dialógico dentro do referencial teórico de Bakhtin e de seu círculo, são parâmetros que circundam minha pesquisa e minha prática, uma vez que creio que nossos passos científicos não podem ser dissociados de nossos passos na vida.
Parto de uma deferência de Sobral (2008, p. 103) ao valioso legado construído por Bakhtin e seu círculo que nos diz que “uma das principais bases das idéias do círculo sobre as categorias do teórico, do ético e do estético é o dialogismo generalizado como base da criação de sentidos nas várias esferas de atividade, incidindo fortemente sobre o conceito de sujeito.”
O sujeito, o é, para Bakhtin, dialógico desde o inicio. Somos nós, que adentramos no processo de humanização quando adentramos na cultura, produzimos e ao produzirmos (coerente com princípios marxista, perscrutado por Bakhtin) nos constituímos. Bakhtin entende que o pensamento se forma paulatinamente, apoiando-se no sistema ideológico que por sua vez se fez através de signos ideológicos anteriormente assimilados. A ideologia, a saber, tudo que envolva cultura (a ciência, a filosofia, a arte, a política, a religião, o direito, a ética, etc.) é viabilizada pelo domínio dos signos, é expressa pela palavra ou outro signo, “tudo que é ideológico possui um valor semiótico” (Bakhtin, 2006b, p.30). Anuncia-se assim a natureza social da consciência, que surge e edifica-se por meio da encarnação material de signos, e tem no processo da interação social sua fonte, onde banha-se do conteúdo ideológico. Em palavras de Bakhtin, “tanto a cultura como um todo quanto cada pensamento em particular de um ato ou ação viva, estão integrados no contexto único, individual do pensamento real como evento.” (2003, p. 53)
Nas concepções do Círculo são equivocadas as análises que compreendem a dissociação entre cultura e vida, exterior