Artigo A primazia do entretenimento
Bruna Aucar1
Introdução
Nunca tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora (DEBORD, 1997, p.14). A provocação feita por Guy Debord, em
1967, anunciava a formação de uma sociedade do espetáculo, expressão cunhada pelo autor para designar um tempo onde a relação social entre as pessoas passou a ser
“mediada por imagens”(DEBORD, 1997, p.14).
Desde aquele 28 de dezembro de 1895, no subterrâneo do Grand Café, em Paris, que a primeira exibição pública de cinema, feita pelos irmãos Lumière, seria o estopim de uma mudança na percepção do mundo ocidental. O fascínio e a curiosidade por aquela transposição de imagens paradas com efeito de movimento fariam com que a experiência pública não fosse mais a mesma. Como se um olho abrisse lentamente para o mundo que estava ali, um olho capaz de apreender a vida e projetá-la numa tela.
Ainda que a fotografia já tivesse encantado as sociedades com a captura de um instante, aquelas imagens que ludibriavam o cérebro e o faziam crer em uma sequência animada se transformariam em um dos adventos mais importantes para a formação da identidade moderno-contemporânea. Os elementos visuais deram aos filmes um poder de comunicação universal.
Para o crítico Neal Gabler (1999), essa atração pela nova arte penetrou de forma intensa na essência humana a ponto de a própria vida poder ser confundida com um filme. Esse movimento teria atingido proporções tão grandiosas que chegam a desfazer
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professora do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, editora do Portal PUC-Rio Digital
(www.puc-rio.br/puc-riodigital) e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC-Rio.
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a diferenciação entre a realidade vivida e a encenada, entre a vida cotidiana e a transposta para as grandes telas. O sujeito se tornou fruto de um hibridismo entre a profusão de imagens ao seu redor e a projetada pelos meios de