Cqc e jornalismo
Juliana Freire Gutmann
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Resumo Discute-se a articulação entre informação e entretenimento promovida pelo programa televisivo CQC- Custe o que custar com base em um recorte analítico de formas expressivas do audiovisual que atravessam a cultura televisiva, especificamente os usos que o programa faz da auto-reflexividade e de elementos da montagem expressiva. As manipulações gráficas, os sincretismos visuais e sonoros, os enquadramentos que enfatizam o processo de produção, fazendo da enunciação o próprio enunciado, são alguns dos dispositivos usados para a promoção de um curioso efeito de sentido, em que o riso e a diversão funcionam como elementos de afirmação de uma suposta atuação jornalística. É justamente com base naquilo que diverte, normalmente visto como necessária oposição à informação e à racionalização do discurso, que são convocados valores e funções centrais do campo jornalístico, como vigilância, serviço público, legitimidade, transparência e conversação política. Palavras-chave: Informação, entretenimento, linguagem audiovisual, CQC
Doutoranda em Comunicação pelo Programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia.
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Em 1936, Walter Benjamim, com o artigo A Obra de Arte na época da sua reprodutibilidade técnica, um dos mais antigos e atuais da Escola de Frankfurt, apontou para a necessidade de rever conceitos da estética clássica, com base nas experiências suscitadas pelas técnicas de reprodução. Para Benjamim, a fotografia e o cinema apontavam para a necessidade de não mais caracterizar a arte como infalível oposição à indústria cultural, mas, ao contrário, discuti-la a partir de uma reflexão sobre a tecnologia que permitisse desmistificar teorias consideradas universalmente válidas. Hoje, nas discussões sobre o entretenimento, visto aqui como um braço central da cultura popular midiática, para evitar o pejorativo termo