Arte e midia

Uma melodia entrelaçada com palavras não entendíveis é cantada em voz baixa, enquanto uma mão coloca flores nos olhos de uma pessoa deitada no chão. Este é o inicio do filme Nell de 1994, dirigido por Michael Apted que narra a história de uma garota com o nome homônimo ao filme, tida como selvagem aos olhos de uma sociedade moldada a partir das convenções comuns do termo civilizado. Antes de tudo faz-se necessário elucidar, que não é objetivo aqui transpor a validade da teoria do bom selvagem, embora seja importante não caracterizar a personagem com um termo agressivo dentre ao que se compreende por civilizado, já que em sua maneira de sobrevivência básica não se identifica grandes traços de diferenciação de cultura aos que lhe foi apresentados ao decorrer do filme, mas apenas uma maneira diferenciada de comunicação e falta de conhecimento dos aspectos que dizem respeito a cultura de outros lugares.
O filme trata de questões bastante elementares ao que se substancia a partir da comunicação: Nell não consegue interagir socialmente com as pessoas que passam a lhe cercar durante a história e assim se entrelaçam distintas estruturas comportamentais de acordo com o determinismo causado pelo simples e comum aprendizado da fala. Aos poucos vão sendo dadas pistas ao expectador de como foi construída a realidade individual da personagem: sua mãe após sofrer um estupro adquire uma paralisia de um lado da face, tendo assim sua dicção prejudicada, ensinando a filha uma língua com palavras formadas de acordo com sua deficiência, entretanto o próprio estupro também deixa sequelas na personagem, que pode ser evidenciado pela sua repulsa pelo órgão masculino e também dos vários traumas, como a morte da sua irmã enquanto jovem. Com o seu desenvolvimento isolado atrelado a uma falta partilha de significados dos fenômenos por ela vivenciados, acarretando numa quebra com os padrões sociais de maneira radical, Nell pode ser analisada como um símbolo de transmutação de expressão,