Análise de poemas de Fernando Pessoa
Sou um Evadido
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
O eu-lírico busca afirmar no poema que o ser humano é preso em si mesmo sendo necessário fingir uma realidade própria para fugir dos limites de seu ser.
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
O eu-lírico ressalta o fato de ter a consciência de ser alguém diferente de acordo com a realidade e de acordo com o momento que vive, ou seja, "viajar". É ainda afirmado que esse "viajar" não possui um fim determinado, não há nenhum objetivo para a transição da personalidade, há apenas a crença de que a mudança é possível e é algo natural.
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração O poeta busca conjugar sentimentos em seus poemas que os leitores costumam sentir, sentimentos que às vezes nem ele próprio se dá conta que sente, mas que realmente são contíguos a ele. Dessa forma ele finge possuir essas dores para trazer bem estar e aproximar os seus leitores, fazendo-os acreditar que vivem algo comum, algo que não é inerte somente a eles. É afirmado no último parágrafo que a emoção, simbolizada pelo coração, sobressai ao que é