Análise do poema 'O Infante' (Mensagem, Fernando Pessoa)
O desenvolvimento do poema "O Infante" processa-se em três partes, ou três momentos.
A primeira parte é constituída apenas pelo primeiro verso, que contém uma afirmação tripartida de tipo axiomático, ou aforístico: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Os três termos desta afirmação seguem-se segundo a ordem lógica causa-efeito: o agente ou causa próxima da obra (efeito) é o homem, mas a causa remota, o primeiro determinante, é Deus. Se Deus não quisesse, o homem não sonharia e a obra não nasceria.
Note-se que o sentido aforístico da frase tem um valor universal: o substantivo Homem refere-se ao ser humano em geral e Obra designa qualquer acção humana. O poema parte, pois, de uma concepção providencialista da vida humana. A segunda parte do texto ( do segundo verso da 1ª estrofe até ao fim da 2ª) apresenta-nos a vontade de Deus que quer toda a terra unida pelo mar, confiando essa missão ao Infante, que levou, como por encanto, essa «orla branca» até ao fim do mundo, surgindo, em visão miraculosa, «a terra.. redonda, do azul profundo».
Como se vê, esta segunda parte do texto subdivide-se em três momentos: a acção de Deus, a acção do Infante e a realização da obra. A terceira parte é constituída pela última estrofe, em que se transpõe para o povo português a glória do Infante («Quem te sagrou criou-te português«). Þ O povo português foi, pois, o eleito por Deus para esta façanha. Mas o poeta assinala também o desmoronar-se do império dos mares («o Império se desfez»), prevendo, no entanto, uma nova acção para renovação e engrandecimento de Portugal («falta cumprir-se Portugal»). Vê-se, portanto, que o assunto evoluciona primeiro do geral (universal) para o particular: o «homem» e a «obra» do primeiro verso têm aplicação universal, ao passo que, na segunda parte, o «homem» se particulariza no Infante e a «obra» na epopeia marítima. Þ Dá-se, depois, na passagem da segunda para a última parte do