Analise do poema"Cansaço" Fernando Pessoa
O que há em mim é sobretudo cansaço 1
Não disto nem daquilo, 2
Nem sequer de tudo ou de nada: 3
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 4
Cansaço. 5
A subtileza das sensações inúteis, 6
As paixões violentas por coisa nenhuma, 7
Os amores intensos por o suposto alguém, 8
Essas coisas todas - 9
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;10
Tudo isso faz um cansaço, 11
Este cansaço, 12
Cansaço. 13
Há sem dúvida quem ame o infinito, 14
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 15
Há sem dúvida quem não queira nada – 16
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 17
Porque eu amo infinitamente o finito, 18
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 19
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 20
Ou até se não puder ser... 21
E o resultado? 22
Para eles a vida vivida ou sonhada, 23
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 24
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 25
Para mim só um grande, um profundo, 26
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 27
Um supremíssimo cansaço. 28
Íssimo, íssimo. íssimo, 29
Cansaço... 30
Introdução: O poema que vamos analisar de seguida insere-se na 3ª Fase da poesia de Álvaro de Campos - a fase do pessimismo, da abulia, do tédio e da angústia existencial. O tema do poema é, portanto, o cansaço do sujeito poético face à vida, face à realidade em que vive.
Análise formal do poema: 1ª: Quintilha; 2ª: Oitava; 3ª: Oitava; 4ª: Nona.
O poema apresenta um ritmo lento, ausência de rima (verso livre).
Análise do poema: 1ª estrofe (O cansaço que o poeta sente): o sujeito poético refere que se sente cansado com o que o rodeia. A causa do seu cansaço não é isto ou aquilo, nem ter feito tudo ou não ter feito nada, ele sente-se simplesmente cansado, no sentido literal.
2ª estrofe: (A racionalização/explicação da sensação de cansaço) A.C. faz um discurso contra a acção, contra a vontade, que no mundo não é dominante, mas destinada ao fracasso.