Antropologia
Edson Passetti
Professor do Departamento de Política e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Coordenador do Núcleo de Sociabilidade Libertária da PUC-SP
Gosto muito das coisas desimportantes, como os insetos. Não só das coisas, mas também dos homens desimportantes, que eu chamo de desheróis.
Manoel de Barros Sabia-se no início do século XX que alguma reviravolta ocorreria desde a efetiva Comuna de Paris, em 1871, e a ampliada intervenção do Estado na sociedade. Anunciava-se, desde então, a pertinência do socialismo de inspiração marxista que viria a dividir o planeta. Imaginou-se, mais tarde, que os efeitos da revolução russa convulsionariam as relações sociais, mas o que ocorreu não ultrapassou o projeto de reforma na propriedade, deixando inalterado o fortalecimento do Estado. As repercussões acomodaram-se em torno de uma esperança de justiça social, contribuindo para a emergência do Estado de Bem-Estar Social. Sob este pano de fundo, que desmoronou conjuntamente no último quartel do século, os conservadores reapareceram engrandecidos, pretendendo o retorno à economia de mercado. Emergia outra versão universalista com base no binômio democracia-liberdade de mercado globalizado. Todavia, a última década atestou a impossibilidade do Estado afastar-se por completo das intervenções e redimensionou a utopia conservadora num liberalismo social que não camufla os setores onde o investimento prioritariamente se realiza sob o regime de uma constante reforma administrativa.
Estamos no interior de um século no qual a sociedade disciplinar cedeu lugar gradativamente à sociedade de controle, cujo alvo deixou de ser a população e passou a ser o planeta: é um tempo de convivência e ultrapassagem da biopolítica da população para a ecopolítica planetária.
O trajeto percorrido neste século deixou inalterado o sentido do castigo e da recompensa como formas