ANTROPOLOGIA
A antropologia nos ensinou a pensar nossos próprios valores como partes constitutivas de nossa cultura, ela mesma sujeita a condicionantes históricos sociais bastante delimitadas. A tradição da antropologia, por sua riqueza, sintetiza valores e perspectivas iluministas e românticas,pode-se concluir que a antropologia reencena, no drama cultural de nosso tempo, o arcaico dilema do ceticismo, para o qual defendo a solução pragmática, cuja interpretação, no contexto do quadro que descrevo, assim se descreveria: a contradição de que participamos é insuperável e só a poderíamos descartar se nosso jogo de linguagem fosse capaz de apontar o limite, o horizonte, o que só ocorre a posteriori, quando a problemática já foi ultrapassada; no entanto, a natureza agonística, trágica, aporética e insuperável de nosso contexto, segundo a descrição que privilegiei, ao invés de impedir posicionamentos práticos e discursivos, ou prático-discursivos, apenas afirma a inexorabilidade do caráter valorativo e pragmático-político dos posicionamentos; a conclusão assinalada no item anterior é possível, na medida em que se recuse a metafísica fundacionalista, em cujos termos o conhecimento e o valor só poderiam formular-se e mobilizar-se, legitimamente, se estivessem fundados na Razão ou na essência dos objetos pertinentes, aos quais se dirigem as ações e/ou os discursos em questão. É perfeitamente possível e desejável que os antropólogos defendamos os direitos humanos tais como consagrados pelos documentos da ONU, mantendo-nos abertos, evidentemente, para postulações específicas de grupos sociais que critiquem determinados princípios, os quais teriam de ser objeto de discussão, em cada caso específico, respeitadas as especificidades de cada contexto, sendo inócua a procura de leis universais de validade ilimitada (aliás, o cientista político James Fishkin já demonstrou que nenhum princípio está livre de gerar efeitos perversos que contrariem suas intenções