Analise - "a Igreja do Diabo"

1491 palavras 6 páginas
Segundo Alves (1990, p. 37), “não há uma unanimidade, na língua portuguesa, quanto ao número e à natureza dos morfemas prefixais”. A autora considera como prefixos as partículas independentes ou não independentes que, “antepostas a uma palavra base, atribuem-lhe uma idéia acessória e manifestam-se de maneira recorrente, em formação em série”. Machado utiliza esse critério já no primeiro capítulo, pois apresenta prefixos negativos (sem, nada), com a finalidade de intensificar e valorizar os substantivos. Tal recurso foi utilizado em detrimento do uso de palavras já existentes em nossa língua, tais como desorganizado, irregular, pois, caso optasse por esses vocábulos o valor expressivo não seria o mesmo. Trata-se de uma trança sintática. sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada.(...) Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja?”. (grifo nosso)
Assim como as preposições contra e sobre adquirem o status de prefixos, pode-se dizer que, atualmente sem- adquiriu a mesma posição, embora não seja reconhecido como morfema prefixal pelos gramáticos e lexicógrafos, conforme lembra Alves (1990, p. 17). Porém, em época de crise social, sem-, é um elemento que impulsiona a criação de muitos neologismos: sem-terra, sem-teto, sem-vergonha, etc.
Também podemos dizer que Machado motivou-se com base nos significantes e significados encontrados no vocabulário eclesiástico, com o objetivo de causar tamanha expressividade e prender o leitor já no início da leitura.
Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizervos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação [...] (grifo nosso). Publicado em Revista Linguasagem – 16° Edição (www.letras.ufscar.br/linguasagem)
O prefixo des-/dis- presente no excerto, e atestado por Bechara, é muito popular: ”do
quinhentismo

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