50 Anos do Golpe Militar
O garotinho afastou a massa de cortina dois centímetros para o lado e deu um rápida espiada pela janela para o lado de fora. Ruas calmas com apenas os ruídos causados pela tração dos tanques contra o asfalto. O ambiente parecia pesado e tenso do lado de fora do quartinho escuro do menino com nada mais que uma cama com armação de ferro e um colchão gasto.
Tudo era sempre assim durante os períodos nebulosamente cinzas da ditadura. Toda opinião ou forma de pensar era morta e esquecida na imensidão.
Na parede oposta a janelinha onde o garoto estava espremido, abriu-se a porta com um empurrão. Por ela, entrou a figura cinzenta e magérrima de uma mulher com seus quarenta anos.Sua mãe. Seus olhos frios se fixaram no menino.
'Hora de ir", diziam eles. Sabendo o que lhe aguardava, afastou-se da janela, seguindo os passos da mãe de perto porta a fora.
Seguindo a fila de meninos e meninas pequenos de vestes simples e cinzas, chegou à escola. Lá, num coro roboticamente sincronizado de vozes, louvaram os hinos da bandeira e da pátria. Nas aulas que se seguiram, apenas o riscar de lápis enchia a sala de aula. Algo que não deveria ser comum entre crianças de sete ou oito anos, que era o silêncio, era um dos grandes predominantes durante aquela ditadura.
Esse silencio quase infinito só foi interrompido quando a porta da sala de aula se abriu com brusquidão assustando a todos. Por ela entrou um deles: um pensador rebelde. Logo, começou gritar aos céus bordões sobre alienação da sociedade e a opressão que estavam sofrendo. O menino se levantou e aproximou-se dois passos, mas nem se quer a um metro chegou do homem quando os soldados fardados do cinza-ditadura irromperam pela mesma porta e se jogaram contra o homem, calando seus pensamentos e ideias.
Mais uma vez, aquela massa nebulosa sufocou um pensador, que foi arrastado da sala deixando pender apenas algumas palavras.
"Abaixo ao cinza opressão".
Isabel Alfieri Dos Santos
São Paulo, 18