12 anos de escravidão
Para analisar o filme norte-americano, inicialmente, há um detalhe sutil, mas de extrema importância: em Holywood, pelo menos, a comunidade negra consegue, ainda timidamente, contar sua história. Recentemente, filmes (forma de arte mais exportada do país) têm retratado o cenário racista. Um exemplo disso é o filme Histórias Cruzadas, o qual retrata a rotina das empregadas domésticas negras no Mississipi, em meados dos anos 60, além de outros como Amistad e o Mordomo da Casa Branca.
O Brasil ao contrário, insiste em negar sua história, cuja arte sobre escravidão e racismo é escassa, além do arquivo sobre a época ter sido queimado em episódio histórico controverso. Histórias de Zumbi dos Palmares e Canudos, por exemplo, são conhecidas de longe, como um episódio distante, coadjuvante. A prática da sociedade brasileira em velar seus crimes e preconceitos, bem da verdade, expandiu-se para além da escravidão, para atingir todo o racismo dos negros já libertos. Outro exemplo do “sucesso” da hipocrisia é a rejeição à Comissão da Verdade, instalada às duras penas.
O filme traz o Salomon (Chiwetel Ejiofor), negro nascido livre, com uma boa qualidade de vida no Estado de Nova York, no norte americano. Após ser enganado por uma proposta de trabalho, é sequestrado e enviado ao Sul para trabalho escravo. Ao chegar em Nova Orleans, é vendido para o Senhor Ford (Benedict Cumberbatch), quando chega outro detalhe do filme: Ford é um homem gentil, simpático, o qual, inclusive, trata Salomon bem dentro da lógica escravocrata. É semelhante ao que Hannah Arendt traz em Eichmann em Jerusalém – Ford não era uma pessoa perversa por natureza, mas um sujeito comum, o