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(Orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, Centro
Cultural Banco do Brasil, 1996. 252p.
CONDENADO PELA RAÇA, ABSOLVIDO PELA MEDICINA: O BRASIL
DESCOBERTO PELO MOVIMENTO SANITARISTA
DA PRIMEIRA REPÚBLICA
Nísia Trindade Lima & Gilberto Hochman
INTRODUÇÃO
Respiramos hoje com mais desafogo. O laboratório dá-nos o argumento por que ansiamos. Firmados nele contraporemos à condenação sociológica de Le Bon a voz mais alta da biologia (In: Problema Vital, Lobato, 1918)
Essa passagem de Monteiro Lobato revela o alívio de parte significativa da intelectualidade brasileira nos anos de 1910. Afinal, a ciência experimental oferecia uma saída para o drama vivido por alguns brasileiros: teríamos sido condenados, pelo nosso estoque racial e pelo clima tropical da pátria, à eterna inferioridade e improdutividade? A resposta da biologia, da medicina moderna, indicava que não. Os conhecimentos dos médicos-higienistas sobre a saúde dos brasileiros e sobre as condições sanitárias em grande parte do território nacional, revelados ao público em meados da década de 1910, nos absolviam enquanto povo e encontravam um povo réu. O brasileiro era indolente, preguiçoso e improdutivo porque estava doente e abandonado pelas elites políticas. Redimir o
Brasil seria saneá-lo, higienizá-lo, uma tarefa obrigatória dos governos.
O alívio expresso por Monteiro Lobato – “O Jeca não é assim: está assim” – refletia a campanha de um amplo e diferenciado movimento político e intelectual que, de 1916 a 1920, proclamou a doença como principal problema do País e o maior obstáculo à civilização. O movimento pelo saneamento do Brasil, pelo saneamento dos sertões, concentrou esforços na rejeição do determinismo racial e climático e na reivindicação da remoção dos principais obstáculos à