À sombra da cidadania

À SOMBRA DA CIDADANIA:
ALTERIDADE, HOMEM DA ÉTICA E REINVENÇÃO DA DEMOCRACIA
SUELY ROLNIK

Quando se diz cidadania, logo associasse ao reconhecimento de respeito pelo outro, no que diz a direitos civis, em um regime no qual a soberania pertence aos cidadãos, todos são membros de uma sociedade, iguais em direitos segundo a lei, sendo assim, pode parecer estranho colocar a alteridade a sombra da cidadania.
Acostumamos a pensar que melhorar a qualidade de existência individual e coletiva é conquista da democracia, que pensar que tal melhora possa necessitar de algo mais do que esse tipo de conquista, e num país como o nosso, o mínimo é algo distante.
Em países “politicamente corretos” nesse aspecto, em que o direito a cidadania é para todos, ou para a maioria, essa conquista não significou uma melhora na qualidade de vida, tanto individual como coletiva.
Acontecimentos atuais nos fazem repensar nosso conceito sobre melhorar a qualidade de vida. Se isso for uma atitude progressista, precisamos repensar o sentido dessa palavra, e interrogarmos a ideia de democracia, problematiza-la, enriquece-la ou reinventa-la.
Para isso, vamos para o âmbito de uma ecologia da subjetividade e problematizemos o conceito de outro, imposto na noção de democracia e de homem. A ética, nesse contexto refere-se a respeito dos direitos e deveres e pelas leis que os regulamentam.
Para a problematização da questão do outro nesse âmbito, façamos uma breve incursão pelo campo da Física.

ORDEM, CAOS E EQUILIBRIO A FÍSICA

Na física clássica, mundo e corpos, funcionavam com regularidade em um mecanismo estável. Ordem e equilibro eram vividos e entendidos como sinônimos.
Isso muda em XIX, com a Termodinâmica, reconhece-se que o mundo não é estável, ele não é igual a si mesmo. A coexistência dos corpos produz em cada corpo dissipação de energia, turbulências e transformações irreversíveis. Se reconhece a turbulência, o caos, a irreversibilidade, mas como negativos da ordem, a ordem