Ônibus 174
Vítima da invisibilidade social, ignorado por todos que o cercavam, ocupou desde sempre um papel subalterno por onde passava. Segundo sua tia, sonhava em ser artista e reconhecido mundialmente. Por quê? A carência de atenção e oportunidades aliada à desestruturação familiar e descaso do poder público para com o pobre órfão satisfazem tal questão. Conscientemente, os atos do mesmo não são tidos como corretos e/ou passíveis de negligência pela sociedade na qual vivia. A nossa sociedade.
Pouco após ser vítima da chacina da Candelária, Sandro passa a ser o algoz do novo drama, impondo sua invisibilidade que redefinia o fato social do qual se tornara protagonista. Com a presença em massa da mídia tinha certeza de que não seria executado pelas dezenas de policiais que lhe apontavam armas naquele momento. Dono da situação, sentia-se glorioso frente às câmeras, finalmente visto e conhecido por milhares.
Mesmo errônea, a atitude de Sandro revela um grito desesperado, remonta uma espécie de “legítima defesa” contra a situação social que lhe foi imposta. Pessoas como ele são consideradas lixo na sociedade, jogadas em qualquer canto para nos desresponsabilizarmos delas. Cabe aos policiais a tarefa suja de eliminar tais “lixos”, aquilo que não queremos nem suportamos ver. Dessa forma, ao saírem dali, mataram-no porque estão acostumados a matar, conscientes de que nada vai acontecer. Afinal, quem vai defender um Sandro? Ninguém.
Assim como ele, milhares estão espalhados por esse país e situações semelhantes se repetem todos os dias. São os Sandros gritando por socorro, tentando nos acordar para o fato de