Ética e Piaget
A violência dos homens, ao longo de todos os milênios que viram as sociedades funcionarem de modo selvagem, organizou-se essencialmente em função da honra e da vingança – dois códigos precisamente consequentes um do outro. Honra e vingança, nas sociedades primitivas e holistas, são inseparáveis. Os agentes individuais estão subordinados à ordem coletiva e, consequentemente, as relações entre homens e coisas são menos valorizadas do que as relações entre homens. O código de honra reina quando o indivíduo e a esfera econômica não têm existência autônoma e são submetidos à lógica do estatuto social. Já o código de vingança reina quando o interesse pessoal tem que ser menor do que o interesse do grupo, quando há obrigação de por em jogo a própria vida em nome do interesse superior. A prioridade do conjunto coletivo sobre o indivíduo exprime diretamente o que significa a honra e a vingança.
A honra e a vingança são códigos de sangue. A vida quase não tem preço comparada à estima pública onde a honra predomina. A covardia é desprezada por toda a parte, mas a coragem, o desprezo da morte e o desafio são altamente valorizados. Os homens lutam até à morte e fazem de tudo para se afirmarem pela força – para garantir reconhecimento e respeito – tudo pelo código de honra. No universo primitivo, o que ordena a violência é, justamente, a honra, pois ninguém pode suportar uma afronta, ou injúria; ódio, insultos, ciúme e inveja sempre acabam, mais do que na sociedade moderna, em um violento desfecho sangrento.
“...A violência primitiva é, na maioria dos casos, guerra por prestígio, puro meio de adquirir glória e renome...”
A vingança faz com que o sangue do inimigo seja derramado, que os prisioneiros sejam torturados, mutilados ou devorados ritualmente. E os rituais de purificação do carrasco são feitos pelo medo da vingança dos espíritos dos inimigos sacrificados. “É preciso desligar a vingança primitiva da psicologia, pois ela