O Velho Do Restelo
Simbologia
Camões recorre à figura do Velho do Restelo para traduzir a posição de todos os que em terra viram partir as naus e discordavam desta expedição. O Velho apresenta-se a considerar que a empresa marítima se faz pela glória de dominar e pela "vaidade, a quem chamamos Fama" (Canto IV, est. 95 v. 2), prenunciando mortes, perigos, tormentas, crueldades, adultérios e muitos outros desastres, capazes de causar a própria destruição do Império. O Velho do Restelo não é uma personagem histórica, mas um símbolo. Tem um fundamento histórico enquanto representante da voz daqueles que discordavam da empresa marítima. Se, por um lado, é símbolo da posição política dos que pretendem apenas a confirmação e fixação dos territórios conquistadores, surge, por outro lado, como símbolo do bom senso, do tradicional medo do desconhecido e da habitual hesitação perante a novidade.
Estâncias 95-97 (primeira parte do discurso):
Nas estâncias 95 e 96, o Velho do Restelo condena o envolvimento do país na aventura dos descobrimentos, a que se refere de forma claramente negativa. Denuncia de forma inequívoca o carácter ilusório das justificações de carácter heróico que eram apresentadas para esse empreendimento, sendo certo que tudo isso são apenas "nomes com quem se o povo néscio engana". E apresenta um rol extenso de consequências negativas dessa aventura: mortes, perigos, tormentas, crueldades, desamparo das famílias, adultérios, empobrecimento material e destruição.
Esta primeira parte é introduzida por uma série de apóstrofes, com as quais revela que o que ele condena é de facto a ambição desmedida do ser humano, neste caso materializada na expansão ultramarina. O sentimento de exaltada indignação manifesta-se, sobretudo, pela utilização insistente de exclamações e interrogações retóricas.
Estâncias 102-104 (terceira e última parte do discurso):
O poeta recorda figuras míticas do passado, que, de certo modo, representam casos paradigmáticos de ambição, com