Velho do Restelo Canto IV
(estâncias 94 a 104)
Canto IV, o momento em que a armada do
Gama está prestes a largar de Lisboa para a grande viagem
De entre a população que comparece na praia para chorar a partida dos navegadores, individualiza-se a figura de um Velho
Na estância 94 há a apresentação da personagem: "Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
“d'aspeito venerando”
- o aspecto respeitável “Meneando três vezes a cabeça, descontente”
- atitude de descontentamento “C'um saber só de experiências feito ; experto peito” -sabedoria resultante de experiências de vida’ Discurso do velho – (estâncias 95 a 104)
95
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
Apresenta razões negativas para a viagem ser feita:
só trará perigos, mortes e dará origem adultérios
fama e glória são palavras que só servem para enganar o povo
(o povo néscio: Que não sabe; ignorante)
97
—"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
98
— "Mas ó tu, geração