Velho Do Restelo
Os navios portugueses estão prestes a partir e esposas, filhos, mães, pais e amigos dos marinheiros juntam-se na praia do Restelo para darem o seu adeus, envolto em muitas lágrimas e lamentos, àqueles que partiam para perigos inimagináveis e para talvez não mais voltar.
No meio deste ambiente emocionado, destaca-se a figura imponente de um velho, descontente, abanando a cabeça como que a dizer não, que, com sua "voz pesada", ouvida até nos navios, faz um discurso enérgico (como se pode ver na primeira estrofe), condenando aquela aventura insana, impelida, segundo ele, pela cobiça, pela fama, pela vaidade e pelo desejo de riquezas e poder, ao custo do sofrimento dos que ficam em terra e dos que partem nestas viagens (como se pode ver na segunda estrofe).
Na terceira estrofe o Velho afirma que tudo isto contribui apenas para a inquietação da vida e da alma do povo e dos marinheiros, nos quais são promovidos adultérios, algo que pode levar ao fim até de impérios e que esta fama e glória que tanto se tenta alcançar nunca chegará ao povo português, estando este a ser enganado.
Na quarta estrofe o Velho reflete sobre as consequências que esta viagem trará, pensando nos desastres que podem acontecer ao povo português, nos perigos e nas mortes dos marinheiros, apesar de terem sido prometidos reinos, minas de ouro, fama, histórias, triunfos e vitórias.
O discurso do Velho do Restelo corresponde a um género antigo de literatura. Trata-se do género conhecido pelos gregos como propemptikón, ou seja, "adeus a um viajante que parte".
Os elementos básicos para uma composição deste género são:
1º) O viajante (Vasco da Gama e os seus marinheiros)
2º) Quem se despede (o Velho e o povo português que fica em terra)
3º) A relação que os une (o facto de serem portugueses)
4º) O cenário apropriado para a despedida (a praia do Restelo, com os navios a ponto de largar)
Neste tipo de poema há alguns assuntos constantes: os perigos e as