O uso ritual das plantas de poder
Maria Clara Rebel Araújo Ricardo Vieiralves-Castro Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Brasil
O Uso Ritual das Plantas de Poder, que reúne 14 artigos escritos por antropólogos, sociólogos e historiadores de cinco países, tem todos os elementos para ser uma obra de referência em pesquisas e discussões que tratam de usos tradicionais e modernos de psicoativos. Seu conteúdo traz pesquisas sobre variadas culturas, etnias e religiões que utilizam ritualmente as tradicionalmente chamadas “plantas de poder”, ou “plantas mestras/professoras”: plantas e substâncias derivadas que em algumas culturas são consideradas mestres em forma vegetal, capazes de ensinar ao homem o caminho de contato com os deuses, sabedoria e conhecimentos que moram além (ou dentro) da realidade palpável ou que podem trazer a cura de diversos males físicos, mentais e espirituais. Longe de terem desaparecido com a crescente ocidentalização e globalização, essas práticas rituais e religiosas permanecem ativas em diversos pontos do planeta: existem diversas religiões e grupos étnicos que utilizam o chá da ayahuasca ou Daime na Amazônia e Peru; outras que utilizam, no Peru e Bolívia, a folha de coca, no Amazonas, o pariká, rapé derivado de uma raiz, nos Camarões, na África, a iboga, e, no Nordeste brasileiro, a jurema, que é utilizada em diversos rituais rurais e urbanos. Isso sem falar da Cannabis, que também era utilizada ritualmente em alguns grupos religiosos brasileiros. Tais usos não se limitam unicamente a um momento sagrado e/ou ritual, mas possuem profundas implicações na vida social, nas instituições e também nas subjetividades desses grupos e indivíduos. Tal como afirmam as organizadoras Beatriz Labate e Sandra Goulart (p. 38):
Cabe ainda esclarecer que, apesar da grande maioria dos artigos desta coletânea discorrer sobre o uso de psicoativos em cultos